Baixa da Cavala

Começamos a procurar destinos interessantes para mergulhos abaixo dos 50 metros na região de Guarapari a partir de 2017, quando implantamos a recarga de Trimix por fluxo contínuo na Acqua Sub.

Um dos pontos que sempre ouvia falar por parte de nossa tripulação, que são dois irmãos: Cláudio e Mayko, respectivamente capitão e marinheiro, era a Baixa da Cavala. O pai deles, que foi pescador por muitos anos, trabalhou conosco até início dos anos 2000, costumava ir lá para pescar sardas cavala numa determinada época do ano juntamente com seus filhos, ficando até 3 dias fora. Mas o que mais me intrigava eram os “causos” que eles contavam de avistamento do canjerão, pseudo-orca (Pseudorca crassidens).

A distância desta baixa do nosso ponto de embarque é de 26,6 milhas náuticas, eles achavam que era no barranco, isto é, no talude submarino, o final da plataforma continental. Olhando hoje na carta náutica, noto que ainda falta aproximadamente 6 milhas para o primeiro barranco de 65 m aos 100 metros de profundidade. Local interessante para peixes de passagem ou pelágicos.

Fizemos as recargas dois dias antes e fomos bem cedo, meu mergulhador de segurança estava receoso em fazer o mergulho, pois o plano seria me encontrar aos 33 metros de profundidade onde faria minha primeira parada de deco. Ele temia encontrar algum animal que não estivesse familiarizado na descida.

Planejamos fazer dois mergulhos de 65 metros nas duas extremidades da baixa, parte norte e parte sul. A mistura usada para o gás de fundo foi TMx 18/25 em duplas de backmount de 15 litros e cilindros de deco de EAN25, EAN50 e O2. Neste tipo de mergulho utilizando equipamento de foto sub é aconselhável o backmount.

Depois de um longo período de navegação num mar muito calmo, que parecia estarmos navegando num azeite de água roxa, como denominamos a água muito clara, chegamos ao local pretendido. Porém a profundidade era menor do que nossos planos. A parte rasa tinha 55 metros de profundidade e a funda 62 metros. Tudo bem, refiz os planos.

A fim de entender melhor sua topografia passamos com a sonda sobre toda baixa. Assim conseguimos estimar que a sua área é de aproximadamente 400 m² somente! Talvez por isso se mostrou um oásis no meio do oceano.

Confesso que também estava muito apreensivo para executar este mergulho, pois não imaginava o que veria pela frente, inclusive com um sentimento de euforia pela possibilidade de vermos o “canjerão” ou outra espécie bem grande.

Quando completei a descida foi puro êxtase, um sentimento de puro prazer e realização. Ao aterrissar num local que poucos ou ninguém teria ido antes e com aquela visibilidade que ultrapassava facilmente os 40 metros. Logo no fundo me deparei com um cenário bem incomum para a região: a parte alta era recoberta por algas pardas (Filo da Phaeophyta – feófitas) e logo no meio de uma clareira com um fundo de areia branca uma enorme raia manteiga (Dasyatis americana ou Hypanus americanus).

Descendo para as bordas da baixa, notei uma formação de pedras com muitas rachaduras e algumas em formas de prateleira, onde a vida marinha se proliferava.  O que esta área também tinha de incomum para a região eram as algas calcárias vermelhas (Mesophyllum sp.), o que dava um lindo efeito quando eram iluminadas.

Outros animais que me chamaram a atenção foram: cardumes com mais de 30 indivíduos de jaguariçá (Holocentrus adscensionis), uns poucos indivíduos juvenis de garoupas verdadeiras (Epinephelus marginatus), alguns bodiões (Bodianus pulchellus), um cardume com mais de 50 indivíduos de duas espécies de donzelinhas (Chromis jubauna e Chromis enchrysura), entre outras várias espécies.

No segundo mergulho vi um belo cardume com mais de 8 indivíduos de olhetes (Seriola rivoliana). Entretanto, infelizmente não vi nenhum grande animal como o “canjerão”. Talvez felizmente para o meu mergulhador de segurança que prontamente estava aos 33 metros e na hora exata para me receber nos dois mergulhos.

Nada melhor que uma boa equipe para execução deste tipo de mergulho. Em breve faremos a exploração num ponto potencial de naufrágio da região, a aproximadamente 53 metros de profundidade. Espero poder ter a oportunidade de compartilhar com vocês esta próxima experiência.

Texto por: Ivan Costa Santos | PADI Course Director

Nível de certificação:
TEC TRIMIX 65

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